O 'Auto da Compadecida' consegue o equilíbrio perfeito entre a tradição popular e a elaboração literária ao recriar para o teatro episódios registrados na tradição popular do cordel. É uma peça teatral em forma de Auto em 3 atos, escrita em 1955 pelo autor paraibano Ariano Suassuna. Sendo um drama do Nordeste brasileiro, mescla elementos como a tradição da literatura de cordel, a comédia, traços do barroco católico brasileiro e, ainda, cultura popular e tradições religiosas. Apresenta na escrita traços de linguagem oral [demonstrando, na fala do personagem, sua classe social] e apresenta também regionalismos relativos ao Nordeste. Esta peça projetou Suassuna em todo o país e foi considerada, em 1962, por Sábato Magaldi 'o texto mais popular do moderno teatro brasileiro'.
O que dizer deste livro que eu já amava antes mesmo de tê-lo em mãos? Eu conheci o Ariano Suassuna através do meu pai, ele foi um homem que meu pai admirou muito e até hoje costuma passar os vídeos dele na televisão, foi inevitável eu também admirar demais o cara e sua história de vida. Então, vimos juntos o filme do livro e o tempo passou quando finalmente tive a oportunidade de ler o livro. O que posso dizer além de que as coisas acontecem no tempo certo? Ter lido esse livro hoje foi claramente uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida e digo isso porque foi um leitura cheia de significado e um peso cultural enorme, além de perceber que neste momento da minha eu consegui entender mais profundamente o livro. Ahhhh, que leitura deliciosa, meu único arrependimento foi ter lido muito rápido.
João Grilo representa um perfil brasileiro muito popular, o do cara que se dá bem enrolando os outros com sua boa lábia. Ele é inteligente e usa isso pra tirar vantagem em cima dos outros, mas ele não vem sozinho. Seu amigo o Chicó é aquele que vai na onda, sendo muito medroso e atrapalhado acaba entrando no problema que, na maioria das vezes, são os outros que criam, sofrendo pra sair deles sem perder a vida. E então, muitas coisas acontecem e as contas terão que ser pagas… o problema é que quem está cobrando elas é o próprio diabo.
“Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre. Que posso fazer agora? Somente seu enterro e rezar por sua alma.”
A obra foi escrita nos anos 50 para se tornar uma peça de teatro com os traços da literatura de cordel e ficou muito famosa quando saiu o filme com o Selton Mello. Desde que eu era nova meu pai sempre me instigou em ler literatura de cordel, então pra mim foi bem fácil ler e amar o livro. Mas quero dizer que a forma de leitura é estranha pra quem não conhece num primeiro momento, não desista e dê uma chance porque vale a pena. Além de ser algo cultural nosso (a literatura de Cordel) vamos apoiar nossas raízes ♥. O livro está dividido em três atos que questionam a sociedade, incluindo os bandidos e o clero que são lados opostos da moeda. A primeira parte é sobre um cachorro sendo enterrado pela igreja em latim, a segunda é sobre o gato que descome dinheiro e, por fim, o julgamento no céu onde vemos o castigo da soberba e outras punições que recaem nas pessoas.
“Não pode ser, João. Eu matei o bispo, o padre, o sacristão, o padeiro e a mulher e eles morreram esperando por você. Se eu não o matar, vêm-me perseguir de noite, porque será uma injustiça com eles.”
A história lida com a sociedade da época e seus pecados fantasiados de boas ações. De uma forma simplista percebemos o qual hipócritas as pessoas são e o grande mérito do livro e nos fazer questionar se somos iguais essas pessoas retratadas no livro. Somos? Enfim, temos no começo do livro o Chicó e João Grilo tentando fazer o padre a benzer um cachorro, só que o danado morre e a dona quer que o padre enterre o bichinho EM LATIM. Com o lema de pagando bem que mal tem, você já sabe o que aconteceu, né? Quando o Bispo descobre a lábia de João Grilo age mais uma vez e conta sobre o testamento do cachorro e o quanto o cachorro deixou pra igreja, sendo um cachorro com tanta fé a situação aconteceu. Seria hilário se não fosse justamente o que acontece ainda hoje. Com dinheiro dá pra comprar tudo, inclusive um terreno no céu. Mas, já deu pra perceber que o João é rápido com a palavras e consegue se adaptar bem em situações inesperadas.
“Muito pelo contrário, ainda hei de me vingar do que ele e a mulher me fizeram quando estive doente. Três dias passei em cima de uma cama para morrer e nem um copo dágua me mandaram. Mas fiz esse trabalho somente porque se trata de enganar o padre. Não vou com aquela cara.”
Já que o mercado de animais estava indo bem, João Grilo decide vender um gato que descomia dinheiro… tá ele cagava dinheiro XD. A mulher do padeiro que era uma pessoa gananciosa compra o animal, mas é óbvio que o marido dela percebe o golpe e vai atrás de João Grilo pra reverter a situação de prejuízo. E é aqui que a coisa começa a esquentar porque com tantas pessoas na igreja dá muito pra ouvir alguns tiros do lado de fora e tcharam o muito temido cangaceiro Severino chegou na uma cidade. Obviamente ele cumpre o papel de ser o grande ‘vilão’ e mata galera, João Grilo consegue se safar usando da sua lábia… Mas, será que funciona? Só digo que enquanto o povo todo morre nos céus temos uma audiência completa com o demônio como advogado de acusação, muito bom como advogado preciso dizer como colega de profissão hahaha, Nossa Senhora como advogada de Defesa e Jesus como o Supremo Juiz. Munido das armas que possuem, todos e cada um deles tenta conseguir a absolvição e ter um cantinho no céu ao invés do duplex no inferno… Mas como conseguir provar que é inocente quando se tem uma vida inteira de pecados sendo jogados na sua cara?
“Não, João, por que eu iria me zangar? Aquele é o versinho que Canário Pardo escreveu para mim e que eu agradeço. Não deixa de ser uma oração, uma invocação. Tem umas graças, mas isso até a torna alegre e foi coisa de que eu sempre gostei. Quem gosta de tristeza é o diabo.”
O bom desse livro é que temos uma intensa crítica à sociedade da época, mas que igualmente serve pros dias de hoje. Tem uma pegada bem regional nordestina, o que dá ao livro um ar bem nacionalista que eu amei. É engraçado, tocante e faz o leitor refletir sobre a sua própria vida, tem como ter mais méritos que isso? Eu amei totalmente a leitura, mas eu amei muito mais a simplicidade com a qual foi escrita toda a obra. Tocou tanto a mim, quanto ao meu pai que diverge em tantas coisas de mim. Uma obra prima cultural, merece todos os louros que possui e muitos outros que ainda virão. Ariano Suassuna tu foi o cara <3, obrigada por deixar conosco presentes tão maravilhosos.
Tudo bem?
Esse livro é realmente muito bom e há que é difícil eu gostar de estilos assim.
Tem como dar risadas, assim como realizar reflexões..
A escrita é sensacional.
Beijos.
Além das Páginas
Além das Páginas
Olá, tudo bem?
Que curioso, eu não fazia ideia de que havia um livro e já fiquei aqui com vontade de comprar para ler. Eu já assisti ao filme tantas vezes que acho que sei as falas todas hahaha adorei a sua resenha, é uma dica que com certeza eu vou querer conferir.
Nossa, não sabia que existia esse livro, mas já fiquei mega curiosa.
Eu amo livros que trazem uma crítica social, pois muitas vezes somos hipócritas e demoramos a admitir. Ainda bem que estamos sempre em contaste mudança.
Sua resenha me deixou muito ansiosa para ler e espero amar tanto quanto você,beijos!
Olá, tudo bem? Ainda não tive a oportunidade de ler o livro nem assistir ao filme dele, mas ambos parecem ser incríveis. Acho muito interessantes essas obras antigas que tem tudo a ver com os dias atuais. Adorei a resenha!
Beijos,
Duas Livreiras
Eu acho essa edição linda <3
Li há muitos anos atrás e foi uma sensação maravilhosa <3
Quero muito reler *_*
Suassuna é eterno, né? Eu recebi essa edição também e amei demais, que coisa mais preciosa! Espero ler mais coisas do autor porque certamente fui conquistada.
Oie, tudo bem?
Nossa, perdi a conta de quantas vezes assisti ao filme, mas nunca li o livro acredita? Eu adoro a história e a mensagem que ele passa, pra mim a parte do julgamento é a melhor!
Beijos!
Oi, Angel!
Eu ainda não li o Auto da Compadecida, mas pelo filme eu tenho um carinho tão grande que vou te contar! hahahaha
Mas agora fiquei curiosa, nunca li nada como literatura de cordel, vou corrigir isso já!
Bjs
Lucy – Por essas páginas
Oi Angel, sua linda, tudo bem?
Eu sou apaixonada pelo filme baseado nessa obra, já vi mais de duas vezes e se tivesse tempo veria novamente. Nunca tive a oportunidade de ler o livro, mas pela sua animação, vejo que é imperdível também. Sua resenha ficou ótima!!!
beijinhos.
cila.
Oi Angel, como está?
Adorei a tua resenha!
Esse livro com certeza é um dos meus desejos de leitura e eu AMARIA poder ter essa edição, mas, a Feira do Livro desse ano me faliu pelos próximos meses, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Abraços e beijos da Lady Trotsky…
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