Na prisão mais temida, ele era um Rei que ninguém ousava desobedecer...
A época é a Segunda Guerra Mundial e o livro focaliza a vida num campo de concentração japonês, brutal lugar onde não se ouvem os ruídos da guerra e onde se encontram mais de dez mil prisioneiros. James Clavell, neste romance, verdadeiramente apresenta a condição humana sem retoques, deixa a nu as paixões mais cruas e as necessidades mais elementares de sobrevivência do ser humano, demonstrando que até mesmo as diferenças de raízes entre Oriente e Ocidente podem desaparecer frente à força conquistadora de um homem que busca estabelecer seu império pessoal.
Antes de mais nada tenho que dizer que este não é um livro fácil de digerir. O ambiente é um campo de concentração durante a segunda guerra mundial, e certas coisas, mesmo que você pense que podiam acontecer numa época distante, num momento difícil, são bem… bem difíceis de entender e aceitar que foram feitas.
Resenha em áudio pra quem prefere me ouvir:
“Uma brisa deixou gelado o suor das suas costas, e trouxe consigo o travo do mar, a cinco quilômetros de distância, cinco anos-luz de distância.”
Fazia tempo que eu não lia algo que foi escrito há tanto tempo, se não me engano este livro foi publicado na década de 60, e a história se passa durante a Segunda Guerra Mundial em 1945, aliás bem no fim dela.
Changi, é o campo de concentração onde se passa a história, os soldados estão presos lá há meses. Temos desde americanos, europeus até australianos. Independente da nacionalidade todos estão em uma situação difícil: o clima é diferente do que a maioria está acostumada, há pouca comida, doenças e quase nenhuma esperança de liberdade.
Para terem uma ideia visual melhor, pensem que não estão presos em celas comuns, e sim em algum lugar maior, onde há galpões com camas e alguns lugares de uso público – como o refeitório e o “banheiro” – são abertos. Lógico que tudo é vigiado o tempo todo pelos guardas orientais.
“- Estamos todos aí, senhor. Vinte homens, eu inclusive.
– Deveríamos ter trinta.
– É, mas só temos vinte. O resto está doente, ou cortando lenha. Nada posso fazer.”
Além de estarem presos, eles ainda tinham que obedecer a ordem de suas patentes do exército assim como possuíam funções em trabalhos braçais.
Em Changi, os dois personagens que mais acompanhamos o seu dia a dia é o Rei e Peter Marlowe.
O Rei, assim como seu próprio nome diz, é um dos que mandam em Changi, em outras palavras ele tem poder, é esperto. Mesmo possuindo uma baixa patente no exército norte-americano, por sempre ter um “jeitinho” de conseguir dinheiro, ele consegue o que quer. E, lógico, provoca a ira dos superiores, afinal, ele come bem e se veste bem enquanto a maioria deles precisam se conformar com migalhas e trapos.
Peter Marlowe possui uma patente mais alta que o Rei, é inglês, e tem bom senso. Por algumas coisas que acabam ocorrendo, ele vira amigo do Rei, pelo menos ele se considera um amigo dele. Já o Rei acha útil ter um “aliado” como Peter.
“Abobalhados, fizeram o que ele mandou, e saíram do quarto para o sol. E o sol e o ar puro eram deliciosos. Seguiram o comandante do campo rua acima, observados pelos olhos atônitos de Changi.”
Por todo o livro fiquei pensando se gostava ou não do Rei. Veja bem, ele tem que sobreviver, estão durante a guerra, em um campo inimigo… por que ele teria que pensar se está tirando vantagem ou não das outras pessoas?
Pode parecer meio egoísta, mas ninguém realmente sabe do que é capaz de fazer ou não para sobreviver. Se você pensar friamente, ele era inteligente e usava isso a seu favor, mas se ele era alguém bom ou ruim não consegui chegar a nenhuma conclusão e realmente gostei disso: de ficar em dúvida sobre o caráter de um personagem. Porque os personagens, geralmente, são tão separados entre bom e mau, como se não pudessem ficar no meio termo, por esse motivo gostei do personagem do Rei, em uma guerra ele era um sobrevivente.
Quanto a Peter, ele era esperto, muito bom com todos, mas parava por aí. Virou amigo do Rei e o considerava de verdade o seu amigo, por esse motivo creio que ele deu sorte, por várias coisas que acontecem na história. Lógico, acredito que coisas boas acontecem com pessoas boas, mas às vezes, neste caso, durante uma guerra, o considerei um tanto “bobo” por confiar tanto em outras pessoas. Porém você acaba gostando de Peter exatamente por isso, ele é tão leal as suas crenças, mesmo em um mundo onde quase todos perderam a fé em outras pessoas. Acho louvável isso nele.
Como mencionei antes, é um livro pesado, há coisas “sujas” (nos diversos significados da palavra). Mesmo tendo muita descrição durante o livro, em nenhum momento achei entediante, mas também não o li tão rápido assim.
Há toda uma mensagem na história que você entende, ou ao menos fica refletindo, quando acaba de ler o livro. Não foi o primeiro que li do autor e, assim como o outro, gostei bastante desse.
livro que entrou para a lista, grato pela excelente indicação.
Já li sobre esse autor!
Ele mesmo foi prisioneiro em Changi durante a segunda guerra mundial, e se baseou nessa experiência pra escrever este livro.