O Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (CELLOS-MG), organizador da Jornada pela Cidadania LGBT e da Parada do Orgulho LGBT de Belo Horizonte, promove no dia 17 de maio, o lançamento do livro Família Invisíveis - Coletânea de Contos e Poemas LGBT.
Essa edição é parte integrante da 4ª Jornada pela Cidadania LGBT, cujo tema “FamíliaS e DireitoS - Nossa Existência é Singular, Nossa Resistência é Plural” faz-se presente na obra. O edital literário convocou a participação de autores em todos os territórios do estado e seus títulos vencedores estarão na produção impressa.
O livro “Famílias Invisíveis – Coletânea de Contos e Poemas LGBT” tem entre seus principais objetivos promover e divulgar a literatura LGBT de Minas Gerais; estimular a produção literária com temática LGBT que discutam a diversidade sexual e de gênero; promover a integração artístico-cultural dessa população, fortalecendo sua identidade e posicionamento político-social. Esses pontos contribuem de maneira bastante efetiva no combate ao preconceito e à intolerância por meio da arte, apresentando ao leitor vivências e laços parentais que, quando observadas com sensibilidade, podem revelar-se muito semelhantes à sua própria realidade.
Queria trazer um livro best seller, um livro cheio de histórias fantasiosas, um livro alegre por essência, mas desta vez voltei com um livro pequeno; pequeno em tamanho, e até em erros, mas não pequeno em histórias.
Famílias Invisíveis é uma Coletânea de Contos e Poemas LGBT resultado do trabalho coletivo de várias pessoas de Minas Gerais. Cada trabalho é identificado com o nome do autor, sua profissão, idade e orientação sexual. Eu como participante da comunidade como pansexual, me senti feliz em ver as pessoas unidas com um propósito. Me senti feliz ao ler essa obra feita por várias mãos dedicadas. E me senti ainda mais feliz ao me identificar em meio a tantos universos.
Poderia começar falando sobre o conteúdo, sobre as belas palavras e as belas pessoas que nos dão tanto talento em tão poucas palavras… Mas acho que devo começar com o mais simples e difícil: o sentir.
Esse livro veio a parar em minhas mãos talvez no tempo mais difícil da minha vida. Pelo menos no pior ano de toda minha existência até agora. Meu sentimento é de tempestades ao meu redor, e minha cabeça está mais do que cheia de dúvidas. Me dói difícil sim começar a lê-lo apesar do tamanho, fino, poucas páginas. Me foi difícil começar justamente por pensar ‘ei, você já está mal, vai adicionar à isso ainda mais?’ e eu venho aqui com toda minha atual convicção: eu estava errada. E como vemos repetitivamente hoje em dia nas redes sociais: eu nunca estive tão feliz em estar errada.
Famílias Invisíveis me lembrou várias coisas. A dor. A tristeza. A persistência. A luta.
Uma luta que não é só minha, e ao mesmo tempo também é. Uma luta que não lutamos sozinhos, mas temos que nos erguer solitários.
Assim como o segundo conto diz:
“Hoje eu sou empoderada. Em-po-de-ra-da. Hoje eu sou forte. Podem me chamar de bicha, sapatão, mulherzinho, de qualquer nome que não seja meu. Isto não me fere mais. A LGBTfobia continua existindo, mas sou mais eu. Vivo meu gênero. Sou militante. Vivo minha orientação sexual. Sou irritante, quando mexem comigo ou com algum dos meus.
Prazer eu sou todas e todos nós.
Eu sou como todos nós!
EU SOU COMO TODOS NÓS!”
(Prazer, eu sou LGBT! – Beija-Flor [BH])
Tem um trecho de uma poesia que eu queria destacar. Não por ser necessariamente importante para minha luta, mas que é tão esclarecedora para meu ser que me deixou embasbacada e extremamente reflexiva por vários minutos.
“Quisera eu querer tanto assim alguém.
Mas a verdade é que eu não quero.
Eu gosto é dessa angústia circular.
O que eu queria era querer ser querido.”
(Quis – Caio Pedra [BH])
Espero ter compreendido o sentido das palavras que Caio quis dizer. Apesar de saber que a poesia é um mundo vasto de interpretações. E eu, mesmo com meu leiguismo, posso dizer: é uma baita de uma poesia!
Quero destacar também o conto da pessoa que está tornando este projeto de resenhas possível:
Plateia Particular – Lorena Miyuki [Dores do Indaiá]
É incrível, totalmente incrível, a maneira como a Lorena sempre faz com que suas histórias me emocionem. E essa de nenhuma maneira podia ser diferente. Sempre quando pensamos em casais fora do padrão, pensamos neles, em como eles sofrem, em como o resto da nossa sociedade os rejeita, mas dificilmente lembramos das pessoas que estão ao seu redor e fazem parte permanente em suas vidas. Plateia Particular foi para mim a lembrança de que temos aqueles pelos quais nos orgulhar, sem importar cor, gênero, sexualidade… Nos orgulhamos e sabemos que eles estarão ainda mais felizes se sentirem nosso orgulho.
E agora talvez o texto mais duro de ler neste ano de 2018.
“Não quero ser invasivo a minha própria existência, mas ontem, no meu quarto, eu me permiti chegar onde eu jamais ousei navegar.”
(Personagem: Você – Paulo Victor Fernandes Ramos [Formiga])
Esse texto me tocou fundo. Tão fundo que me peguei segurando as lágrimas. Tanto por minha própria orientação quanto pelo meu próprio dilúvio interno. É difícil crescer. É difícil estar à altura das expectativas. Mas é ainda mais difícil você respeitar a si próprio. Queria dar um abraço em Paulo Victor, queria lhe dizer que suas palavras chegarem sim à um grande significado para mim; queria lhe agradecer por me dar mais um estímulo para continuar a lutar.
Do fundo do meu coração, um grande obrigada à todas as pessoas deste livro. Aos que mostram através da doce literatura que há sim um mundo pelo qual trilhar e que ele pode ser lindo. Sofrido, mas lindo.
Espero que o nicho onde isto foi possível se expanda, e não se deixe abalar pelo conservadorismo ou preconceito. Vão encontrar em mim uma aliada. Não esquecerei. Não esqueçam!
Olá, tudo bem? Caramba, que interessante esse livro! Não costumo ler obras com a temática LGBT, mas essa realmente me chamou a atenção. Parece ser uma leitura bem importante e que só tem a acrescentar.
Beijos,
Duas Livreiras
Muito bacana a proposta do livro, genial, por sinal. Gostei da capa e a temática me atrai inclusive pelo espaço de empoderamento na literatura.
Oi, tudo bem?
Eu ainda não conhecia esse livro, mas achei a proposta incrível. Confesso que eu não sou muito de ler contos e poemas, porém, a temática desta coletânea é muito importante. Ainda falta representatividade na literatura e acho maravilhoso ver mais obras como esta.
Acredito que seja uma leitura realmente tocante e fiquei muito feliz por conferir sua resenha.
Beijos!
Que lindo! Deu para perceber o quanto este livro te emocionou e te prendeu. Me pareceu realmente um livro tocante, apesar de não ser o gênero que costumo ler, eu gostei da premissa que as poesias nele traz.
Beijos!
Olá!
Eu não sou muito fã de poesias, prefiro mesmo livros com contos ou histórias completas, mesmo que longas. Mas é muito legal ver como o tema lhe tocou e passou a mensagem que você precisava naquele momento. Acho que se fossem apenas contos ou um livro com uma única trama, eu me sentiria mais tentada a ler, no momento, pensei em algumas pessoas que iriam gostar no gênero que ele é, de poemas e contos.
Ótima dica! Abraços
Que linda resenha! Eu ainda não conhecia o livro e achei que os contos são muito interessantes e assim como te atingiram em cheio eu acredito que cada um deles vai mexer demais com o leitor. Espero ter a oportunidade de ler em breve.
Nossa fiquei comovida em saber que este foi um ano tenso para você, de sua existência, isso doeu em mim, pode acreditar. Adorei saber da essência de Plateia particular, pois eu sou faço parte da plateia que torce pelos meus amados e amadas que fazem parte do não comum da sociedade. Livro anotado para leitura em breve.
Força. Seja você independente do que pensem ou esperem de você. Você é a pessoa mais importante para você.
Bjo
Tânia Bueno