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19 nov 2017

A Insustentável Leveza do Ser – Milan Kundera

comentando sobre Livros Parcerias Resenhas Resenhas de Livros Tags4 estrelas, clássico, Editora Companhia das Letras, Milan Kundera, romance

Autor(a): Milan Kundera
Editora: Companhia das Letras
Nº de Páginas: 344
Comprar: Amazon

CURTI

    • Sobre este romance, Italo Calvino escreveu: "O peso da vida, para Kundera, está em toda forma de opressão. O romance nos mostra como, na vida, tudo aquilo que escolhemos e apreciamos pela leveza acaba bem cedo se revelando de um peso insustentável. Apenas, talvez, a vivacidade e a mobilidade da inteligência escapam à condenação - as qualidades de que se compõe o romance e que pertencem a um universo que não é mais aquele do viver" (Seis propostas para o próximo milênio). O livro, de 1982, tem quatro protagonistas: Tereza e Tomas, Sabina e Franz. Por força de suas escolhas ou por interferência do acaso, cada um deles experimenta, à sua maneira, o peso insustentável que baliza a vida, esse permanente exercício de reconhecer a opressão e de tentar amenizá-la.

Eu confesso que solicitei “A Insustentável Leveza do Ser” pela capa maravilhosa, me julguem porém concordem comigo: Essa capa é maravilhosa! Sobre o livro fiz uma releitura, porque já tinha tido o prazer de ler a obra faz um tempo atrás. Inclusive confesso que fiquei um pouco chateada na época que li, tinha muita coisa que eu não compreendia com minha mente tão jovem, sinto dizer que ainda hoje eu não consigo compreender tudo que temos aqui nestas linhas.
Esse livro conta a história de quatro personagens e suas vidas no decorrer dos anos, e isso incluí sobre as pessoas que amam e que deixaram de amar. É um relato sobre o que é viver, sobre o porque viver e, principalmente, sobre o que é a vida. Parte se passa em Praga e com um cenário político bem complicado. Mas, quando se quer falar de amor não é complicado, né?

“Aquele que se entrega ao outro como um prisioneiro de guerra deve antes entregar todas as armas.”

O livro começa nos conduzindo à teoria do retorno popularizada por Nietzsche (mentalmente eu pronuncio esse nome de tantas formas que vocês nem imaginam). O principal desta teoria é que a vida seria um conjunto de ciclos repetitivos. Por isso os protagonistas Tomas, Tereza, Sabina e Franz, possuem essa ligação que seria eterna (?), ou melhor, contínua. Tomas é um médico reconhecido que goza de um bom status financeiro e social, podendo se dar ao luxo de ter uma vida despreocupada. Ele mantém um caso com Sabina (e outras pessoas) onde tem apenas sexo informal com a moça e vive bem assim, até que conhece Tereza e sua rotina muda completamente já que ele permite a entrada da moça em sua vida. Tereza enxerga em Tomas algo mais belo que sua própria realidade suja. Temos aqui algo que odeio, um triângulo amoroso. Contudo não é apenas isso, não é pelo menos algo fútil ou simples. Tereza e Tomas tem vários acasos que se tornam encontros. Tereza vinha de uma realidade muito dura, ela era tratada como escrava em casa pela família, sua mãe tinha uma “raiva” do que a garota representava para ela e nesse meio ela enxergou em Tomas a possibilidade de uma outra vida. Uma vida boa e livre, mesmo que ela entregue pra ele quem é e lhe ofereça tudo que poderia ser. E isso vai acontecendo enquanto a Rússia invadia à Tchecoslováquia, ou seja, a vida vai acontecendo.

“Um dia tomamos uma decisão, sem mesmo saber por quê, e essa decisão tem sua própria força de inércia. Cada ano que passa fica mais difícil mudá-la.”

Tereza que estava presa numa realidade opressiva e nojenta, hum talvez o nojenta não seja o correto, mas é como eu sinto a situação e por isso vou usar mesmo, e transforma Tomas em seu salvador.
De certa forma ele assume o papel de príncipe encantado que vai levá-la para o castelo e por isso confia seu futuro ao homem. Mesmo que a realidade não seja tão boa assim, enquanto ela metaforicamente esteja progredindo na vida, a forma como a realidade é não é tão boa assim. Vemos isso pelas traições de Tomas e a forma que ela aceita, como ela poderia se opor? Em contrapartida, temos a Sabina que vê o mundo de uma forma crítica com a feiura e encontra em Tomas um igual. Mesmo que ele mude com a Tereza eles ainda são iguais pra mim. Gosto da Sabina por mais que eu não quisesse. Gosto da solidão dela quando Tomas e Tereza partem, gosto da contradição da solidão que ela sente que luta com a liberdade que ela sempre buscou evitando relacionamentos sérios. E é com a Sabina que vemos dois polos diferentes, porque a verdade é que o ser humano busca uma razão pra existir, no caso dela a liberdade, contudo essa mesma busca acaba sendo contrária a existência em si que te prende no conceito pré definido de sociedade e ligações interpessoais. Em resumo você quer algo, mas não vai atrás porque está socialmente preso numa caixa até o ponto em que não sabe mais o que procura e se conforma com onde está. Complicado e complexo. 

“Saindo da casa da mãe, havia acreditado, idiota que era, que seria dona de sua vida de uma vez por todas.”

No livro vemos alguns conceitos filosóficos interessantes porém complicados, já falamos da teoria do retorno, agora vou falar sobre a leveza e do peso de Parmênides. Ele trata as coisas através da dualidade da mesma, ele diz que algo existe porque outra coisa não existe, por exemplo: frio é ausência de calor e trevas é ausência de luz. Então a leveza é uma liberdade que provém da não ligação ou comprometimento com outras pessoas, mas para seguir esse pensamento seria necessário abrir mão dos laços com todas as pessoas. E o que seria a vida sem os vínculos? Pois é, não seria. E analisando essa dualidade vemos vários pontos de vistas diferentes no livro, temos a Tereza e a conclusão sobre a sua vida no final e a de Tomas que tem a convicção de que não se arrepende de nada. Ainda neste assunto de teorias e filosofia temos a aplicação da compaixão, usando principalmente o sentido de que a compaixão seria piedade e por isso uma relação do mais forte com o mais fraco. Em sumo, a compaixão tal qual usamos seria apenas mais uma relação de poder dominadora onde o mais forte enxerga o sofrimento do outro, porém ele mesmo não sofre apenas solidariza à distância. Existe outro ponto de vista, mas não acho necessário colocar porque, sendo sincera, acredito que esse é o ponto aplicável no livro, a relação de poder de Tomas com a dependência da Teresa. E vemos isso tudo sob a perspectiva da dimensão da vida humana, por isso o tempo passa e vemos que a teoria do retorno é muito utilizada com as idas e vindas do presente, passado e futuro. É uma história sobre amor, mas principalmente é sobre a vida humana e é bom ver isso porque foi bem executada.

“Os amores são como os impérios: desaparecendo a idéia sobre a qual foram construídos, morrem junto com ela.”

Hum, como falar deste livro? Muitas vezes eu lutava com a escrita, já outras eu adorava por parecer tão crua, mas  cheia de conceitos filosóficos sobre a vida e as consequências de nossas escolhas, e é isso que torna a história pesada. Contudo, meu maior problema é que pra você conseguir entender o livro de verdade é preciso ter um certo conteúdo/conhecimento de filosofia e eu não sou muito fã disso. Gosto de livros que falem comigo por ele e não pelo que eu saiba, mesmo que ele me explique.
Eu tive essa sensação antes e ainda tive ela agora, mesmo que eu estivesse muito melhor preparada para assimilar a leitura. Entre os méritos o maior deles pra mim é a capacidade do autor em esmiuçar os personagens. É inegável que sabemos do caráter íntimo de cada um deles, sabemos quem são em seus defeitos e qualidades. Não são perfeitos, mas quem é? A leitura é bem fechadinha, mesmo com os saltos no tempo. É um livro denso e com temas intensos, por pesado quero dizer que vemos abusos, suicídio, dependência doentia e outros. É bonito ver que os personagens estavam interligados, mesmo que não soubessem de suas relações e destinos, mas nós enquanto leitores sabíamos disso e percebíamos a ligação deles. Gostaria de dizer também que a Tereza é uma mulher MUITO submissa e pode incomodar algumas pessoas, é óbvio que o livro é antigo e devemos considerar isso, mas eu me pego pensando em quantas Terezas ainda temos hoje em dia presas em seus Tomas. Ah, Tereza… Sinto pena por ela e a sua vidas, mas não deixou de ser sua escolha ou talvez não. Leia e decida por si mesmo.

  • Este livro nos foi cedido pela editora Companhia das Letras, porém as opiniões são completamente nossas e sinceras. Não sofremos nenhum tipo de intervenção por parte da Editora em nossos comentários.

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• Postado por Angel Sakura
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Leia os últimos comentários também...
  1. postado em dezembro 5, 2017 às 8:26 am
    autor: Tais Burigo

    Oi tudo bem?
    Que nunca escolheu o livro pela capa né? Mas respondendo a sua pergunta ela é mesmo maravilhosa! Confesso que havia gostado bastante da premissa mas ao saber que teria que entender um pouco de filosofia ( o que eu odeio) para compreender melhor a história já me deixou com um pé atrás.

    Beijos

    Responder
  2. postado em dezembro 5, 2017 às 9:36 am
    autor: Sandra Mendes

    Hey, Angel! Que resenha linda!

    É uma falta grave, mas eu ainda não li esse livro. Sou doida pra ler.
    Sua resenha foi bem transparente e deixou bem claro o que devemos esperar do livro, e, por causa disso, eu já espero gostar muito.
    Com toda certeza essa será uma leitura para o próximo ano!

    Beijos!

    Responder
  3. postado em dezembro 6, 2017 às 12:41 pm
    autor: Bárbara Prado

    Hhahaha eu sempre escolho livros pela capa, é quase impossível pra mim não fazer isso!!!
    Bom, ainda não conhecia esse livro, mas sua resenha está tão completa que me deixou super curiosa.
    Vou anotar na wishlit
    Bjs

    http://blog-myselfhere.blogspot.com.br/

    Responder
  4. postado em dezembro 6, 2017 às 5:59 pm
    autor: Falkner Moreira

    Olha, discordo de ti. Não só a capa é maravilhosa, mas a edição toda é incrível <3 Cia das Letras fez um trabalho lindíssimo aí. Dia desses encontrei na livraria e passei quase 1h inteira com ele, querendo levar pra casa hahahah tenho a edição "pobrinha", mas o carinho pelo livro é de monte, é um livro pra reler durante a vida inteira 🙂

    Responder
  5. postado em dezembro 7, 2017 às 5:05 pm
    autor: Marijleite

    Olá, ótima resenha. Esse é um livro sobre o qual já ouvi falar e que tenho bastante vontade de ler, ainda que talvez essa parte filosófica possa me cansar um pouquinho. E sobre essa capa, ela é mesmo linda, eu compraria o livro por causa dela mesmo que não conhecesse mais nada sobre ele.

    Responder
  6. postado em dezembro 7, 2017 às 9:29 pm
    autor: Mari

    Eu acho que a temática desse livro é algo que não me atrai muito, mas realmente é uma capa linda e eu já ouvi várias referências a essa obra.
    Beijos
    Mari
    Pequenos Retalhos

    Responder
  7. postado em dezembro 7, 2017 às 10:26 pm
    autor: Silviane Casemiro

    Ooi! Sim, a capa é linda!! Não conhecia essa obra, mas que complexidade, né? Acho que eu ficaria um pouco perdida, pelo menos em alguns momentos eu tive a impressão pelo seu texto. Mas me parece ser uma história linda.

    Responder
  8. postado em dezembro 8, 2017 às 7:06 am
    autor: Saga Literaria

    Olá, tudo bem?

    Eu estou na dúvida se já vi ou li alguma resenha sobre esse livro antes, de qualquer forma achei essa capa interessante, bem como a premissa. Parece ser um livro bem reflexivo e isso me desperta interesse, pois gosto de livros que nos tiram da zona de conforto. Dica anotada e parabéns pela resenha!
    Abraço!

    Responder
  9. postado em dezembro 8, 2017 às 10:44 am
    autor: Débora Costa

    Não vou mentir, não é muito bem o tipo de leitura que eu gostaria de fazer no momento, mas não deixa de ser um livro que eu daria uma chance em um outro momento, talvez.

    Responder
  10. postado em dezembro 10, 2017 às 9:54 pm
    autor: Catharina Mattavelli Costa

    Oie
    uau que legal ver a resenha desse livro por aqui, sempre quis ler e sempre vejo muitos elogios mas é um daqueles que a gente adia e adia pra sempre por não ser acostumada com esse tipo de leitura. Muito linda sua resenha e me deu mais coragem de tentar arriscar
    beijos
    http://www.prismaliterario.com.br/

    Responder
  11. postado em dezembro 28, 2017 às 1:42 pm
    autor: Lilian de Souza Farias

    ‘tinha muita coisa que eu não compreendia com minha mente tão jovem’ normal, aconteceu comigo com muitos livros que exigiam maturidade de minha parte. sobre a insubstituível do ser, amo demais, vou fazer uma releitura em 2018, mas de uma troca no sebo

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