A vida de Marisa é regida pelo controle. Seja à frente do seu trabalho ou da vida dos filhos, ela é racional, mantendo-se sempre fria, um ser à parte das banalidades, cuja única preocupação é ser um exemplo. Olga é sua antítese. Sentimentos à flor da pele, dor flagelando a carne, pensamentos embaçados pelo esquecimento proporcionado pelo álcool. Sozinha, preocupa-se em apenas ser, em um mundo cercado por fatos que não reconhece mais como seus. Enquanto isso, Ana e Verônica esbarram com o acaso.
Duas senhoras solitárias, vizinhas e antagônicas. Será que um dia alguém acharia que poderiam viver em paz? Mais ainda, será que poderiam se apaixonar? Duas jovens livres e independentes. O que as impede de ficar juntas?
Já tinha lido várias resenhas de Mulheres Que Não Sabem Chorar, e sabia um pouco por cima do que era o livro. De certa forma eu estava preparada, mas todo o drama e todas as coisas pesadas e reais, foram muito tristes de se acompanhar. Era uma realidade que poderia acontecer, e por isso tudo se tornou muito triste e angustiante de se ler.
Marisa e Olga são mulheres que sofrerem muito, e agora na meia idade descobrem que podem encontrar refúgio uma na outra. Já Ana e Verônica são jovens, e se apaixonam, mesmo tendo uma bagagem de outros amores e problemas do passado. Porém todo o preconceito da sociedade não é algo que se possa fugir, não importa a idade que você tenha.
“Todas nós, independente do modo, que nos reconhecemos como mulheres, carregamos um mundo em nossas entranhas.”
Marisa é uma mulher que vive de acordo com as regras que a sociedade impõe, e assim se casou (ficou viúva), tem filhos (que já adultos saíram de casa), conseguiu manter um trabalho o qual é dona e assim vive uma vida solitária de acordo com o que a sociedade espera dela. Olga tem problemas com álcool, e depois da morte de sua filha pretende finalmente largar o vício, sua vida tem cicatrizes de abusos de muitos homens e praticamente ela sobrevive cada dia sem expectativa alguma. Mesmo que as duas sejam vizinhas há muito tempo uma situação as aproxima e assim um desejo que elas não imaginavam surge e assim um caso entre elas começa.
Ana é jovem e teve um passado conturbado (o qual não faz questão de se lembrar), tenta viver do seu jeito e desde que conheceu por acaso Verônica não consegue a tirar da cabeça, mesmo sabendo que ela é comprometida. Uma amizade entre as duas começa, porém as faíscas entre elas é algo perceptivo e somente amizade não parece ser suficiente para Ana.
Uma história de mulheres que viveram/vivem momentos de abusos onde o preconceito que as rodeia determina como devem viver, e suas vontades e desejos são algo que não podem ser vividos, e por muitas vezes nem sonhado.
“Nossos defeitos podem ser o que nos protege do mundo, não precisamos nos liberar deles, precisamos aprender a conviver com eles sem nos ferir, exatamente como os espinhos das rosas.”
Se você chegou até aqui já entendeu que este é um livro de romance lésbico, certo? Devo também dizer que temos cenas de sexo, e violência sexual. Porém devo dizer que o que me impactou mesmo foi todo o preconceito e todas as coisas que de verdade poderia acontecer com uma mulher. A violência é tão nua e crua, e ela é jogada na nossa cara que não tem como não sofrermos (ao menos um pouquinho) com tudo que lemos. Tudo é tão cruel, e real, desde termos toda uma vida regida por costumes da sociedade até a violência atual contra mulheres. Porque sabemos que algumas coisas de verdade acontecem, seja o preconceito e violência contras nós mulheres. São tantas coisas violentas (tanto física quanto psicológica) que doem ler, que eu confesso ter demorado um pouco para terminar de ler o livro.
Porém também temos cenas de companheirismo, e de paixão, e em meio há tanto drama foi um alívio ter estes momentos. Enquanto que Marisa e Olga viviam algo mais físico (eita!) Ana e Verônica foram da amizade para romance, e foi interessante acompanhar casais diferentes, elas tinham algo em comum, mas tomaram decisões diferentes.
“A verdade é que todos nós criamos expectativas de um jeito ou de outro, criamos e isso é a nossa realidade paralela.”
Sobre a parte que não gostei muito foram os diálogos, as quatro mulheres tiveram educações diferente, e vidas diferentes, e o modo que os diálogos foram escritos me deu a impressão de ser a mesma pessoa. Não foram críveis para mim. E o final me fez sofrer um pouquinho…
No geral eu gostei da mensagem da história, e o drama do livro é correspondente às situações vividas. Li muitas resenhas reclamando de Marisa e Olga partirem pro vamos ver bem rápido, porém sinceramente elas são mulheres mais velhas, eu acho que até fez sentido por conta da idade delas e por elas não quererem enrolação (super aprovo) então para mim as cenas de sexo estavam no contexto da história (não as achei excessivas nem nada assim).
Esta leitura fez parte do Leia Mulheres do tema autora independente, porém eu queria lê-lo já tem um tempo. Mesmo com os pontos negativos que citei acho super a pena ser lido, a história traz uma realidade que muitas mulheres enfrentam e verdades que muitos fazem questão de fingir que não existe. Recomendo a leitura!
Oi Debyh.
Eu já tinha visto este livro e algumas resenhas sobre ele, mas nenhuma tinha chamado tanta atenção como a sua. Pela sua opinião o livro parece ser bem interessante e forte. Com certeza quero conferir a história de perto. Parabéns pela resenha e obrigada pela dica.
Bjos