Primeiro mandamento: matarás.
A humanidade venceu todas as barreiras: fome, doenças, guerras, miséria... Até mesmo a morte. Agora os ceifadores são os únicos que podem pôr fim a uma vida, impedindo que o crescimento populacional vá além do limite e a Terra deixe de comportar a população por toda a eternidade. Citra e Rowan são adolescentes escolhidos como aprendizes de ceifador - papel que nenhum dos dois quer desempenhar. Para receberem o anel e o manto da Ceifa, os adolescentes precisam dominar a arte da coleta, ou seja, precisam aprender a matar. Porém, se falharem em sua missão ou se a cumplicidade no treinamento se tornar algo mais, podem colocar a própria vida em risco.
Este livro foi todo uma surpresa, era uma prova da editora que eu aceitei sem ler a sinopse, mas ao ver a capa decidi que precisava dessa história na minha vida. Gente, olha a capa no melhor estilo você vai morrer. Tinha que ler pra ontem. Acabei o livro que estava lendo e furei a fila dos outros, essa sou eu. Não importa quantos livros eu tenha pra ler, acabo sempre aceitando mais e mais e me enrolando eternamente. Quem precisa de vida social? A verdade é que já estou enrolada mesmo, vejo meus amigos daqui a oitenta e quatro anos. Então, vamos falar do livro que tem uma premissa assustadora por: a) pode vir a ser verdade e b) tenho pavor de vida eterna. A premissa é que a humanidade evoluiu num ponto onde chegou nos 100%, não tem mais nada que possa ser feito, pois já fizemos TUDO. Vencemos o tempo, as doenças, a fome, a guerra e tudo mais, agora a administração do mundo é feita por um computador honesto que contém todas as memórias e história da humanidade e, mais importante, que não rouba e faz o necessário para todos terem vidas boas. Leiam corretamente o que escrevi que foi vida boa e não vida feliz. Por causa da imortalidade humana adquirida pelas regenerações celulares e nanotecnologia se criou um sistema/projeto chamado de Ceifa, que é composta de pessoas que são escolhidas para matarem as outras aleatoriamente e assim controlar o crescimento populacional. Essa é única administração feita unicamente e completamente por humanos, e que o computador não pode interferir de forma alguma. Entre o computador honesto e o ser humano, adivinha de que lado vai dar bosta? É, eu sei que você acertou essa pergunta.
“Às vezes, quando o peso da minha tarefa se torna esmagador, começo a lamentar tudo aquilo que se perdeu quando vencemos a morte. Penso sobre religião e que, depois que nos tornamos nossos próprios salvadores, nossos próprios deuses, a maioria das crenças… tudo passou a ser irrelevante.”
Temos dois protagonistas que por acaso se veem envolvidos com o mundo dos ceifadores, que são os únicos com autorização de matar. Primeiro conhecemos Citra que é uma pessoa normal num mundo anormal, sua família é algo que podemos aceitar no nosso padrão de vida atual com uma mãe, um pai e um irmão. Ela estuda esperando levar uma vida, se não boa, pelo menos satisfatória. Ela é competitiva e com uma personalidade estourada e no geral é uma boa pessoa que tem um forte senso de certo e errado. Ela, se puder classificar, está rumo ao topo da pirâmide da sociedade. Amada, reconhecida e bonita. Do outro lado temos Rowan que se autointitula um alface, ele se denomina como uma pessoa que está ali mas não faz diferença. Tanto que estar ou não estar não faz diferença, ele não é a estrela e não tem pessoas que se importem com ele de verdade. Sua família é tão grande que ninguém presta atenção nele, inclusive sua avó retornou do rejuvenescimento com 25 anos e grávida novamente. Entenderam quando ele se enxerga como apenas mais um no mundo? Talvez por viver nesta situação ele se tornou uma pessoa com muita empatia pela situação dos outros. Esses dois personagens tão diferentes acabam caindo num destino igual que nenhum dos dois desejavam.
” A cada coleta que faço, a cada vida que tiro pelo bem da humanidade, lamento pelo menino que um dia eu fui, cujo nome às vezes mal consigo lembrar. E sonho com um lugar além da imortalidade, onde eu possa, ainda que em pequena medida, ressuscitar o deslumbramento e ser aquele menino novamente.”
O serviço dos ceifadores é escolher cuidadosamente, e de forma equilibrada, pessoas na população para morrer. Já que não existem mais mortes naturais e os seres humanos são basicamente imortaaaaiiiiisssssssss, mas precisamos ainda assim controlar o tamanho da população mundial. O Ceifador Faraday cumpre seu trabalho da melhor forma possível, sendo imparcial e o mais gentil que se pode ser na sua profissão. Por essa razão ele acaba encontrando motivos para treinar um aprendiz e acaba escolhendo dois param que possam disputar esse cargo durante um ano de treinamento. Citra e Rowan, que não se conheciam, passam a ser companheiros de treinamento disputando uma vaga como ceifador, no final do treinamento um deles se tornará a mão que tira a vida dos outros e o outro irá retornar a vida anterior. Ao iniciarmos o treinamento com os dois jovens nós começamos a ver os prós e os contras de se tornar um Ceifador nesta realidade, mas além disso conhecemos outros ceifadores que não são tão corretos quanto o Ceifador Faraday. Neste mundo imortal, Ceifadores são como deuses, são aqueles que podem lhe conceder a imunidade ou tirar-lhe a vida, eles são a única força a se temer e admirar. E, sendo sincera, as pessoas os adoram e os temem na mesma proporção, é bem bizarro essa veia macabra da humanidade que não mudou nem lá na futuro. Ao conhecer mais de perto a Ceifa podemos ver que toda a instituição, apesar de ter um propósito justo, se tornou um órgão corrupto e cheio de falhas. Dê poder à alguém para ver como ela realmente é, aqui temos muito disso.
“Estamos acima da lei, mas isso não significa que a desafiamos. Nosso cargo exige um nível de moralidade acima do domínio da lei. Devemos buscar a incorruptibilidade e avaliar nossas motivações todos os dias.”
Eu gostei da trama, gostei dos personagens e gostei do mundo. A escrita também foi bem gostosa de acompanhar e quero a continuação, mas existiram pontos que me incomodaram. Sinto que este livro poderia ter sido facilmente dividido em dois, tínhamos muitos assuntos para tratar aqui e por isso alguns não foram tão bem cuidados. Por exemplo, a primeira parte foi bem boa e o treinamento inicial interessante. Daí tivemos o primeiro plot twist que mudou as coisas e aprendemos muito do mundo de outros ceifadores, mas não se aprofundou como tivemos com o Faraday. Os personagens pararam de tomar suas decisões para serem levados pela situação em que se encontravam, daí do nada eles surgem todos maduros e eu fiquei me perguntando quando essa mudança aconteceu. Eu queria ter sentido que eles cresceram, queria ter aceitado a maturidade adquirida, mas foi complicado. Pra mim eles ainda eram o mesmo Rowan e a mesma Citra do início do livo. O romance foi bem ridículo, mas eu fingi que não existiu e tudo certo. O conceito de moralidade também foi meio fraco com pessoas ruins causando dores e pessoas boas não, eu queria ver um pouco mais de complexidade com relação a isso, nem tudo é preto ou branco, temos um longoooooo caminho em cinza por entre eles. O final foi excelente e pra quem quiser saber, este livro funciona muito bem como livro único. A história começa e termina de forma bem completa (este é o primeiro da série Scythe). O livro é de uma forma simples realmente assustador, mas ainda assim fascinante. Ver um futuro que pode acontecer sempre me faz questionar sobre as escolhas que estamos fazendo e também me assusta depender tanto de uma máquina. Essa sou eu tendo medo da tecnologia. ME JULGUE!
“Quanto mais vivemos, mais rápido os dias parecem passar. Como é perturbador viver para sempre. Um ano parece durar apenas semanas. Décadas voam sem nenhum acontecimento que as marque. Ficamos acomodados na monotonia sem sentido da vida, até que, de repente, nos encaramos no espelho e vemos um rosto que mal reconhecemos implorando que nos restauremos e sejamos jovens novamente.”
O que mais gostei no livro foi o fato de que enquanto eu lia ficava me questionando: “e se fosse eu ali o que eu faria?”. O que me fez pensar muito e questionar, já deu muitos pontos pra leitura isso. Eu fiquei encucada com a mortalidade, no caso a falta dela… isso nos tirou a humanidade? Talvez, mas sendo sincera é por saber que a vida tem prazo de validade que eu quero fazer tudo que eu puder no menor tempo possível, é uma motivação… eu acho. É visto no livro uma gama de comportamentos que são tóxicos como um todo, mas repetido por simplesmente não fazer diferença. Você pode pular de um prédio e tudo bem, você vai ser reconstruído e continuar a sua vida como se nada tivesse acontecido. Enxergar a morte como algo essencial é complicado, mas ao mesmo tempo é o que valoriza a vida. Além disso o livro nos trás camadas e camadas de bons questionamentos sobre escolhas, oportunidades e ocasião, mesmo que possa parecer um simples YA sem conteúdo tem muito outro ali naquelas páginas. É um livro complexo, divertido e com reviravoltas o tempo todo que vão agradar a todos. Mas, o melhor pra mim foi ver que mesmo quando tudo é basicamente perfeito, o ser humano vai dar um jeitinho de estragar… e no mais queria dizer que a perfeição deve ser muito chata. Falow valews.
história interessante, deixa um questionamento sobre o futuro e não ter morte. minha próxima aquisição.
voces vao resenhar o segundo livro de meio rei? quero saber se vale a pena a compra da série.