Florent-Claude Labrouste tem 46 anos, detesta seu nome e toma antidepressivos que liberam serotonina e causam três efeitos colaterais: náusea, falta de libido e impotência. Seu périplo começa em Almeria (Espanha), segue por Paris e depois pela Normandia, onde os agricultores estão em luta. A França está afundando, a União Europeia está afundando, a vida de Florent-Claude está afundando. O sexo é uma catástrofe. A cultura não é mais uma tábua de salvação ― nem mesmo Proust ou Thomas Mann são capazes de salvá-lo.
Nesse contexto, Florent-Claude descobre vídeos pornográficos assombrosos em que sua atual companheira aparece, e isso é a gota d’água para que ele deixe o trabalho e passe a viver em um hotel. Perambula pela cidade, visita bares, restaurantes e supermercados. Repassa suas relações amorosas, marcadas sempre pelo desastre, que transitam entre o cômico e o patético. Ao se reencontrar com um velho amigo aristocrata, que parecia ter uma vida perfeita, mas que foi abandonado pela esposa e se vê falido, Florent-Claude aprende a manejar uma arma de fogo ― que vai mudar sua vida para sempre. Em um espiral de problemas, Florent-Claude se torna um hábil analista da contemporaneidade, de seus anseios, inseguranças e problemas. Sua vida, um reflexo do desinteresse pelo mundo, será o espelho das mais cruéis agruras da vida.
Eu fiquei curiosa quanto a este livro porque em muitos lugares tem elogios ao autor (coisas do tipo de ele ser o melhor atualmente) e de verdade eu não o conhecia, porém em minha defesa eu não ‘circulo’ entre os meios dos autores franceses hehehe. E agora sim depois de ler este livro eu posso confirmar: ele realmente escreve bem.
Florent-Claude não está satisfeito com a sua vida. Seu relacionamento com a sua namorada não vai bem, ele não tem interesse na sua profissão e praticamente não tem mais família. E então um dia ele resolve que precisa acabar com tudo aquilo.
“(…) agora eu estava no meu próprio inferno, construído por mim segundo as minhas próprias conveniências.”
Sem precisar se preocupar com dinheiro, já que herdou o dinheiro de seus pais. Florent-Claude passou dos 40 e tem uma vida estável, com um bom emprego e uma namorada bonita (muito mais nova que ele). Porém as coisas não são tão boas quanto aparenta, ele já gosta do seu emprego e as coisas não vão bem com sua namorada (na verdade ela o incomoda muito), e desde que começou o tratamento contra a depressão o remédio também afeta o seu dia a dia.
Então um dia Florent resolve dar um fim a tudo aquilo… fugindo de sua própria vida. Ele larga seu emprego, some com suas próprias coisas e começa a viajar pela europa. Durante essa viagem ele relembra de pessoas importantes que passaram pela sua vida e aos poucos fica sabendo o que aconteceu com elas. Florent parece estar em uma despedida de tudo que viveu e cada vez mais tem certeza que nada vale a pena.
Uma história pela vida de um homem que está refletindo sobre tudo que passou pela sua vida e quais foram os caminhos que as pessoas que ele conheceu escolheram trilhar.
“Conheci a felicidade, sei o que é isso, posso descrevê-la com competência, e também conheço como é seu final, que é o que normalmente acontece.”
Caso não tenha ficado claro, deixa eu alertar corretamente: este é um livro de um homem com depressão com tendências suicidas. Então fica o alerta para quem fica desconfortável em ler sobre o assunto. E mesmo para você que não se sente afetado eu preciso dizer que este livro é muito angustiante e um pouco perturbador (sim, me perturbou, durante e depois da leitura).
Mas deixa eu falar antes do nosso protagonista. Florent é o tipo de homem que por anos, desde que ele se lembra, simplesmente segue a vida sem grandes emoções, praticamente todas as suas decisões e o rumo de sua vida foi por comodismo, e assim ele passou dos 40. No momento atual ele toma remédio para depressão o que afeta sua vida sexual. E mesmo que este não tenha sido um dos grandes problemas, ele já não gosta tanto da sua namorada (ainda mais por descobrir alguns segredos dela). Então sua viagem rumo a terminar com tudo começa.
Aos poucos ele vai reencontrando pessoas que ele conhecia, amigos, namoradas, aos poucos percebendo que nenhuma delas teve uma vida promissora como Florent achava que iriam ter. Entre acontecimentos atuais e lembranças do passado, Florent é irônico quanto as pessoas e sua própria vida não parece ter um grande significado para si mesmo. Tudo isso recheado de sarcasmo contra a sociedade europeia e de como a sociedade funciona.
Enquanto eu lia do começo ao fim deu pra perceber o quanto Florent está cansado de toda a sua vida e como mencionei essa não foi uma leitura fácil. Até mesmo a ironia (que era pra dar uma ‘quebrada’ na parte dramática) a qual ele via tudo era tão perturbadora.
“Não sei, agora estou velho, não lembro direito, mas acho que já sentia medo, e que já havia entendido, naquela época, que o mundo social era uma máquina de destruição do amor.”
Outra coisa que também preciso avisar é que tem umas cenas bem grotescas e como mencionei tendências suicidas, é um livro bem pesado mesmo que aparente ser somente um drama. Do começo ao fim a intenção do autor foi o choque e ele com toda certeza conseguiu fazer isso comigo enquanto eu lia.
A narração do livro é em primeira pessoa do ponto de vista do Florent e mesmo sendo um livro curto eu demorei a ler, porque ele é bem intenso durante sua viagem. Além disso ela é feita em vários tempos diferentes, temos o momento atual dele e passagens antigas, e tudo isso é misturado, como se fosse uma pessoa conversando com você e de repente se lembra de algo que aconteceu e conta no meio mesmo de outra coisa que está acontecendo. Parece confuso mas o autor deixou tudo bem explicado, sou a rainha de me perder em narrações assim porém neste livro isso foi tranquilo para mim
ao contrário de todo o resto.
Enfim este livro me incomodou. E eu sei que essa era a intenção do autor, então com certeza ele acertou do começo ao fim. Se você ficou tem curiosidade e quer conhecer esse autor recomendo que leia com calma, já que realmente difícil ler rapidamente e lembre-se que do começo ao fim ele usou como recurso o exagero e o choque. E nisso ele me pegou completamente.
[mc4wp_form id=”26998″]
Cara, que premissa interessante!
Eu também sou do tipo que não conheço autores franceses, na verdade, eu nunca li um livro escrito por um frances.
Acho que esse deve ser um livro bem intenso, se eu pegar pra ler, de certeza que ficarei meio abalada com ele, mas a capa e o titulo chamam muito a atenção, vou até procurar ele pra comprar, quem sabe!
Amei a resenha!
Então, eu até que me interessei a respeito de conhecer o autor, mas lendo sua resenha, e os avisos para gatilhos, eu meio que comecei a ficar incomodada. Eu não sou suicida, e nem fico balançada com esse tipo de narrativa não, mas eu me sinto mal. É mais nesse sentido de sentir angústia e desespero… E depois desse horroroso ano de 2019 que eu vivi, acredito que não dou conta dessa leitura.
O livro é lindo! Sua resenha ficou muito completinha, e achei uma ótima dica. Parabéns!!
Olá, tudo bem? Eu super me simpatizei com esta capa, mas os alertas que deu na sua resenha sobre a obra me fizeram enxergar que não é o tipo de leitura ao qual estou acostumada. Não sei se vale a pena sair da minha zona de conforto, mas em todo caso, irei anotar a dica com certeza.
Oi Debyh!!
Eu adoreia premissa desse livro, adoro livros personagens com idades mais avançadas, inclusive essa história me lembrou beeeem de leve As Desventuras de Arthur Less, fiquei feliz de ter sido apresentado a esse livro, se eu tiver oportunidade de ler eu vou sem dúvidas ler.
Beijos!
Eita Já Li
Ohhhhh eu quero muito ler esse livro, o autor, como você bem diz, escreve muito bem. ‘ele usou como recurso o exagero e o choque’ eu amo isso, tem que ser muito mestre para brincar dessa forma com a linguagem.
Olá, achei esse livro muito interessante pelo seu post e é uma leitura que eu faria. Gostei dessa premissa de o personagem ir reencontrando pessoas do passado, vendo como a vida delas não foi como imaginou, largar tudo e ir viajando por lugares… na verdade, tenho uma certa queda por livros com personagens depressivos.
a obra parece bem bacana e apesar de me soar bem pesada também, mas fico pensando em pessoas que estão mais sensibilizadas lendo a obra com tantos gatilhos. maas como boa curiosa que adora obras assim já quero kkk já vou procurar kk.
Não seria um livro que eu leria, pelo menos não por agora na fase que estou. Mas não deixei e ficar curiosa para saber onde isso tudo chegou. Ótima resenha
Olá, tudo bem? Nossa que interessante, autor usar do aumentativo para nos chocas e surpreender. A temática me é um pouco pesada sim, ainda mais que você falou em possíveis gatilhos. Não sei se leria essa história no momento, mas realmente fica a curiosidade em conhecer uma escrita do estilo. Ótima resenha!
Beijos