Vou começar esse post com uma frase engraçadinha que é basicamente o que faço enquanto leio muito dos livros ultimamente “tem uns livros tão errados que leio com uma mão virando as páginas e a outra na consciência”. Eu faço isso direto e adaptei de um tweet que fala sobre uns funks tão machistas que se dança com uma mão no joelho e outra na consciência. Não podia começar esse texto de forma diferente do que essa, porque me representa demais.
Quando eu era mais nova eu lia bastante, mas nem sempre livros com conteúdo ‘respeitável’. Meu amor por livros aprofundou com histórias em quadrinhos e romances de banca do tipo Bianca, Julia, Sabrina… Como eu amava ler aquelas histórias de amores impossíveis, improváveis e sensuais. Pra minha eu que era adolescente foi muito divertido, e a minha eu de 12 anos não via problema em muitas das coisas que lia. O grande problema é que a eu de 34 não consegue compactuar com certas coisas ou pior, a eu de hoje vê problemas demais e me pergunto se: talvez eu esteja problematizando demais ou os livros merecem essas críticas? A verdade é que gosto de certos livros constrangedores, e eu tenho que lidar com isso. No SoSeLit deste mês vamos discutir se o que lemos influência na nossa consciência social.
O que discutimos (eu e a Debyh) aqui no post está no podcast, então dê play no áudio (ou Download
)
“Você pode ler o que quiser, separando o que é ficção do que é realidade, e tendo noção de que algumas coisas são muito erradas e dão muitos anos de cadeia.”
– Debyh
Preciso dizer que meu gosto literário é o que podemos considerar como peculiar. Não tenho problemas em assumir que gosto de livros de ‘baixo calão’, ainda amo romances de banca e gosto de livros com conteúdo duvidosos. E quando digo duvidoso eu tô falando de leituras bem trash mesmo ou dark romance. Mas, é aqui meu grande ponto, não me sinto incomodada com certas leituras porque sei que é ficção. Eu NUNCA compactuaria com um relacionamento prejudicial, mas em alguns livros não me importo porque a história é escrita de uma forma que não me incomoda. E é aqui que eu ponho a mão na consciência e penso, estou eu errada? Sou eu uma feminista de Taubaté? A verdade é que dependendo de como o autor escreve, alguns livros não são considerados ruins por mim. Em contrapartida, por ser quem eu sou hoje alguns autores apenas quero matar. É meio contraditório, mas é por isso que consigo entender e aceitar o gosto das pessoas que são diferentes do meu.
Ignorando o fato de quem eu sou como pessoa, digo isso por ter trabalhado como voluntária em ONG de violência contra mulheres, ser mulher e me considerar feminista, eu leio livros que são politicamente incorretos e o pior eu gosto deles. Eu entendo que a militância da causa deva acontecer sempre que possível, mas não acho errado gostar de certas coisas quando elas não existem de verdade, afinal é ficção. Por exemplo, eu apoio o boicote da música da surubinha de leve por ser um desserviço além de apologia ao crime, mas isso não me impede de dançar funk. Bem como o fato de eu ler romances hots não desmerece a minha consciência ao ler livros feministas. Eu NUNCA iria deixar de apoiar uma mulher, na verdade qualquer pessoa, que precisasse de ajuda e isso não é algo que seja influenciado pelo que eu leio é quem eu sou.
“Não vou julgar as pessoas e não entendo como os outros possam tão facilmente julgar. Deixa cada um ler o que quiser, o que importa são as escolhas de vida e não o que eles leem.”
– Angel Sakura
Eu penso que a ficção é um lugar seguro, onde podemos ler sem restrições. Claro, que isso respeitando a idade de quem está ali. Mas enquanto gosto de ler certas coisas na ficção, vide homens dominadores, odeio totalmente na vida real, sério, nunca aceitaria passar por essas situações. Mas não me sinto suja ou errada lendo, mas já recebi críticas pesadas pelos meus gostos que ‘desmerecem as mulheres’. Por que eu deveria ter vergonha de ler o que eu quero? Por que alguém deveria ter o direito de opinar no que EU gosto de ler? Simples, não tem. Ninguém tem tal direito além de você mesmo. Você é responsável por suas escolhas, escolha o que quiser fazer nos seus horários de lazer.
Agora, tirando esses livros que uso para lazer culposo, gosto de livros que me agregam conteúdo ou me fazem pensar, eu aprendi muito sobre Gaslighting (abuso psicológico onde usa-se informações distorcidas e controladas para fazer o outro pensar que está ficando louco ), relacionamentos abusivos, machismo, abusos, romantização de relacionamentos abusivos e feminismo por livros. Então, existem dois lados da moeda. Se você quiser aprender temos opções, e se você quiser apenas relaxar também pode. Uma coisa não exclui a outra, se você quer ler livros com temas pesados, LEIA. Se quiser ler romance água com açúcar, LEIA. Se quiser ler sobre feminismo, LEIA. O importante é que você deve ter o direito de escolher o que quiser, é essa a bandeira que nós aqui do Eu Insisto vamos levantar. Você não é mais ou menos mulher pelo que você lê/assiste, e sim pelas escolhas que toma na sua vida. Se ao ver uma outra mulher numa situação de risco e oferecer sua ajuda você já está fazendo a sua parte. Nós aqui fazemos a nossa e, sendo sincera, é isso que define quem você é pra mim. Fica o conselho pra quem anda perdido pelo mundo querendo julgar o amiguinho sem ver que o seu teto é mais frágil do que papel. Tome vergonha na cara e pare de cuidar da vida alheia, certeza que você vai ser muito mais feliz e ainda vai ter mais tempo pra ler excelentes livros. Se quiser posso indicar alguns livros ótimos.
♥ Livros citados no podcast: Lick, Adorável Cretino, Prazeres Sombrio, Dear Captor, Bad, Somebody i used to know, Crave a Marca, A Escrava e a Fera, Lolita, Holocausto Brasileiro, Belo Desastre, After, A Mãe de todas as perguntas, Destruction, A mão esquerda da escuridão, Trono de Vidro, Corte de Espinhos e Rosas, Eu amo Nova York, Princesa de Papel, O lado feio do Amor, 50 tons de Cinza, Jantar Secreto, Acesso aos Bastidores, entre outros.
E você? Já deixou de ler um livro por algum desses motivos? Você acha que se define pelo que lê?
Compartilhe a sua experiência conosco!
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Oie migas =)
Quando leio um livro realmente mergulho na obra e se de alguma forma algo me incomoda ou não consigo criar identificação a leitura não flui tão bem.
Infelizmente volta e meia acabamos nos deparando com esse tipo de situação nos livros que lemos, porém o que mais me incomoda é ver que esses livros são escritos por outras mulheres.
Claro que como vocês mesma falam a gosto para tudo e temos o direito de escolher de ler ou não. Porém acho triste que algumas coisas vistas com violência na vida real, são aceitas com fetiches na ficção. Tipo normal o cara fazer isso, afinal é só um livro, só que as pessoas se esquecem que em muitos lares aquilo acontece de verdade todos os dias.
Beijos ;**
Ane Reis | Blog My Dear Library
Achei bem interessante teu texto. Sobre toda essa questão de ler ou não determinada obra por causa do conteúdo, ou porque não agrega em nada.
Bom, eu sempre achei, e levo isso comigo, que os filmes, os livros, as séries… emfim, produto de ficção, todos eles, de certa, forma moldam nossa percepção do mundo. Nenhum obra é neutra. Eu leio sim tudo o que eu quero, mas sempre sou crítica. Muito crítica.
Acho muito preocupante ver que muitas pessoas ainda não reconhecer obras que romantizam abusos. Não reconhecem obras que reforçam machismo, homofobia, gordofobia, por exemplo.
Você fala que ler livros que classifica como constrangedores. Isso quer dizer que você sabe o que está lendo e é crítica.
Mas acho que a grande questão é: e quando a pessoa não sabe fazer a interpretação do texto e muito menos relacionar com o mundo em que vive? Devemos ou não devemos meter o bedelho dessa questão?
Beijos
Ooi!
Olha, adorei o post e a sua opinião. É tenso a vontade de acabar criticando de uma forma negativa o que você disse, porque né… Cada um gosta de uma coisa e tem uma opinião e pronto. Eu já penso coisas diferentes de você, mesmo que tenha alguns pontos contraditórios. Não gosto MESMO de ler livros que romantiza relacionamento abusivo, acho algo bem ruim e incomodo mas talvez entendo o porque de outras pessoas gostarem; as vezes existem outros aspectos na obra ou até mesmo na vida dessa leitora que acaba fazendo ela gostar do livro. Enfim, existem N fatores e cada ser humano pode pontuar um.
Acho que o principal problema é que o que lemos muda nossa percepção de mundo e muitas vezes, alguns livros podem ser extremamente prejudiciais, muito embora sejam só ficção. Existem muitos relacionamentos abusivos romantizados em livros e nem todos os leitores conseguem entender qual o problema. A falta de consentimento em romances hot pode aos poucos levar o leitor a imaginar que tudo bem insistir quando a mulher continua dizendo não. É importante ter uma visão crítica do que se consome, seja em livros seja em filmes.
Beijos
Mari
Pequenos Retalhos
Ótima bandeira levantada porque eu, honestamente acho um absurdo eu ter que ler algo que não estou afim só porque “Tem que ler algo com conteúdo, um livro filosófico, ou de política ou de alguma causa….”
Eu leio pra fugir do mundo real.
Acho que temos que ler o que quisermos e não o que acham que é o certo ler.
Beijinhos!!
#Ana Souza
LiteraKaos!
Oie
uau que texto maravilhoso, é ótimo saber a experiência de uma leitora sobre isso. Eu muitas vezes acabo levando minha opinião pessoal para a leitura, como por exemplo, não gosto nada de Cinquenta tons por considerar uma leitura absurdamente machista e livros do mesmo gênero também. Mas conheço muita gente que se considera feminista e adora o Christian Grey por exemplo, então imagino que vá muito de opinião e super respeito isso.
Beijos
http://www.prismaliterario.com.br/
Mulher consciência é o minimo né? e saber diferenciar ficção da vida mais ainda kkk o foda é esses livros romantizando a porra toda kk.