Publicado pela primeira vez em 1915, Terra das mulheres mostra como seria uma sociedade utópica composta unicamente por mulheres.
Antes do leitor encontrar a suposta maravilha dessa utopia, terá de acompanhar três exploradores — Van, o narrador; o doce Jeff; e Terry, o machão — e suas considerações e devaneios sobre o país, no qual, os três têm a certeza de que também existem homens, ainda que isolados e convocados apenas para fins de reprodução. Um país só de mulheres, segundo os três, seria caótico, selvagem, subdesenvolvido, inviável.
Uma vez lá, Van, Jeff e Terry se dividem entre a curiosidade de exploradores com fins científicos e o impulso dominador de um homem, oscilando entre tentar entender mais sobre aquela utópica e desconhecida sociedade e o sonho de um harém repleto de mulheres que talvez estejam dispostas a satisfazê-los e servi-los.
Não sei se fui eu ou o livro, só sei que nós dois não combinamos. Nadinha mesmo, e eu sei que o livro foi escrito em 1915, mas eu lendo em 2019 queria morrer em diversos momentos. Não, não deu mesmo. Eu tenho uma enorme curiosidade de ler ‘O Papel de Parede Amarelo’ e por isso solicitei esse livro, não vou julgar a autora por esta obra porém confesso que optei por reduzir as minhas expectativas. É isso, um livro que eu pensei ser feminista só que era outra coisa.
Três homens totalmente estereotipados para a época de 1915 encontram uma sociedade utópica composta apenas de mulheres. Nesta investida terão que perceber o valor das mulheres enquanto sonham com um harém e muitas mulheres para os servirem, além de mostrarem o quanto os homens são importantes na evolução de uma sociedade.
““Lá no alto”, “Ali em cima”, “Bem para lá” — eram as únicas direções que foram capazes de dar, mas as lendas concordavam em um ponto: havia um estranho país sem homens, onde viviam apenas mulheres e meninas.”
Temos três homens diferentes, porém totalmente iguais e eles passam o livro fazendo merda e jorrando sua ‘superioridade masculina’ num país onde não existem homens e está isolado do mundo. Cada um com uma especialidade e característica principal que os tornam os mesmos caras que vemos jogando merda nas redes sociais nos dias de hoje, temos o garanhão dono de todas as novinhas, o salvador de donzelas babaca e o esquerdomacho, então eles escutam sobre uma terra composta apenas de mulheres e obviamente devem ir lá desbravar. Cheio do seu conhecimento de macho, sem pedir direções (mentira eles pedem sim hahahaha) chegam na terra prometida. Eles encontram o país, mas não sem antes fazerem um monte de comentários depreciativos para as mulheres, que sequer conhecem, de todas as formas. Um ofende por menosprezar e o outro por santificar pra desmerecer. Eu só queria dar um tapa na cara de todos eles, bando de macho idiota e daí eu comecei a entender que talvez as mulheres de 1915 ansiassem por uma sociedade só de mulheres porque os caras eram assim. Até eu mataria os homens se todos fossem assim, já que basicamente estava querendo me dar um tiro na minha cabeça depois de ler tantos comentários horrendos. Enfim, continuando, eles chegam lá e começam a pensar de forma idiota e agir de forma mais idiota ainda, além de julgar as mulheres mais velhas porque na cabeça deles mulheres deveriam ser lindas. Se liga nessa citação: ““Mulher”, no abstrato, é jovem, e, pensamos, graciosa. Conforme envelhecem, elas passam a tocha, de alguma forma, para alguém da própria família ou para outrem.” Pode vomitar aqui?
“Nenhum deles jamais o vira. Era perigoso, mortal, diziam, para qualquer homem. Mas havia histórias, muito antigas, de quando um explorador corajoso o viu — País Grande, Casas Grandes, Muita Gente. Apenas mulheres.”
Algo que me incomodou foi que existia um ponto de vista ofensivo, um ponto de vista menos ofensivo e o meio termo que parecia não ser ofensivo porém era o mais babaca de todos. Olha essa frase: “Fortes e sensatas: sim. Mas não estou tão certo quanto ao “boas”. Olhem esses rostos!”, obviamente você define se a pessoa é boa ou má pelo rosto. Faz todo sentido, só que não. Em todo momento que eles foram ‘apreendidos’ após invadirem a Terra das Mulheres eles viam suas conquistas em termos de civilização, mas constantemente menosprezavam isso, como se uma mulher não fosse capaz de conseguir fazer tal coisa. Isso foi me incomodando e crescendo em mim o que foi tornando impossível gostar da leitura. A ofensa gratuita às mulheres me irritava, e enquanto um criticava qualquer estética fora do que ele esperava das mulheres, atacando desde a aparência até a idade brutalmente, já o outro tentava salvar todas porque mulheres devem ser cuidadas mas não repreendia os comentários machistas e misóginos que o amigo cuspia. Além disso o livro vem reforçar que o papel da mulher é a maternidade e que as coisas boas da vida são feitas por homens, mesmo que as mulheres tenham criado e mantido uma terra só delas, não era boa o suficiente porque não haviam as escolhas que apenas os homens eram capazes de fazer. Foi assustador entender que um livro que eu esperava ser feminista estava ali pra reforçar a necessidade do homem e que ele é, de fato, o pilar da sociedade. Direitos iguais, não tá tendo aqui da maternidade onde tenho que ir pra parir uns filos e poder ser considerada uma mulher completa. E eu respeito que algumas mulheres tenham um forte instinto maternal, porém discordo no ponto onde TODAS devam ter.
“É engraçado, sob a luz do que encontramos, essas nossas ideias claras sobre como seria um país de mulheres. Não adiantava dizer a nós mesmos e um ao outro que tudo isso era especulação ociosa. Estávamos ociosos e especulávamos, na viagem pelo mar, e pelo rio também.
— Admitindo o improvável — começávamos solenemente, e depois entrávamos na discussão outra vez.
— Elas brigariam entre si — insistiu Terry. — Sempre brigam. Não vamos encontrar espécie alguma de ordem ou organização.”
E então temos o aborto citado no livro, pessoalmente não tenho uma opinião formada sobre favor ou contra e prefiro deixar para cada um escolher o que for melhor para si mesmo. Mas o livro trata o comportamento com tal radicalismo que assusta, a tentativa de estupro teve menos valor do que o dito aborto permitido. E daí falamos sobre a maternidade como a única coisa redentora das mulheres, que ao não oferecermos nosso amor de mãe para uma criança estamos e seremos sempre infelizes e incompletas. Sério? Era isso mesmo em 1915? Sinceramente fiquei mais e mais decepcionada enquanto lia. Até mesmo os defeitos atribuídos que as mulheres possuíam advinham dos homens, ou seja a mulher existe em função do homem e tudo dela vem deles. No caso as mulheres não teriam inveja uma da outra porque não existiria homem para elas competirem… Entenderam minha revolta? Eu acredito na maternidade e acredito em amor, só não acredito que você precisa de uma fórmula pra ser feliz. Deixa as minas amarem como quiser, deixa as minas fazerem o que quiser, deixa todo mundo ser feliz do jeito que quiser. O que transformou a leitura em chocante porque eu esperava um livro feminista e me deparei com mais do mesmo incluindo casamento, maternidade e abuso. Além de que os homens lá logicamente se tornaram amados/admirados pelas mulheres imediatamente, porque os homens devem ser amados e tratados como reis e mimimimi~. Tsc.
“As mulheres no seu país são tão fracas que não conseguem carregar uma coisinha dessa?
— É uma convenção — disse ele. — Supomos que a maternidade já seja um fardo suficiente, e os homens devem carregar todos os outros.”
Não sou a pessoa mais politizada do mundo, tenho muito que melhorar e tenho me esforçado nisso. Ainda faço piadas babacas e comentários imbecis, mas estou melhorando. Daí quando comecei esse livro eu pensei que iria ter mais material pra pensar e melhorar como ser humano, fiquei chateada com o enorme não que recebi. Eu respeito super as opiniões dos outros e também tento ler os livros considerando o momento em que foram escritos MAS eu sinto que devo dar a minha opinião sincera nas minhas resenhas e por isso vou dizer que detestei totalmente o livro. Assim, além do livro estar repleto de preconceitos disfarçados de ‘utopia’ eu fiquei muito incomodada com a maternidade sendo a melhor coisa que as mulheres podem ter e a única possibilidade de tornar uma mulher completa. Eu não pretendo ser mãe, logo eu seria rechaçada nesta sociedade tão perfeita. Outro ponto que me irritou foi a forma de querer retratar as mulheres como puras, mas torná-las idiotas. Aquela tentativa de estupro, aquele final idiota e todo o contexto que levou pra lugar nenhum destruiu o livro e qualquer possibilidade de extrair algo bom dele. Em mérito ele é bem escrito e tem um ou outro ponto interessante como a ideia divina e a discussão sobre morte e a ideia de dar nomes, mas estou forçando a amizade aqui pra elogiar algo. Ah, por fim quero falar sobre a adoração com os homens… pra uma livro cuja proposta é uma terra de mulheres achei meio irônico tal comportamento. Enfim, lerei a outra obra da autora que é bem renomada contudo confesso que fiquei muito frustrada com esta obra. Não foi pra mim, mas manda bala porque pode ser pra você e isso é a graça dos livros. Eles conversam com cada um de maneira única.
PS: NENHUM HOMEM PARTICIPANTE DESTE LIVRO MELHOROU OU CRESCEU NO DECORRER DA HISTÓRIA. Saímos do 0 e permanecemos lá.
Nossa, que saco saber que você esperava tanto pelo livro e no fim não foi nada do que pensou, uma pena mesmo, eu detesto quando isso acontece por isso não vou mais com expectativa nenhuma para ler um livro, e confesso que gostei muito da sua honestidade como sempre.
Beijos
Menina eu também morria de vontade de ler esse livro sabe, mas ai, uma moça que eu acompanho, postou um podcast onde ela falou sobre esse livro e eu tive exatamente a mesma sensação que você teve lendo o livro! Ela falando sobre o livro eu só queria morrer, só isso!
Achei o cumulo vendo pessoas falarem que esse livro é feminista, eu nem li o negócio e já tô com um ranço de ler, imagina quando eu ler então?! Nossa senhora.
Acho que vou tentar ler ele, mas é mais pra sanar a curiosidade mesmo e sem expectativa nenhuma, vamos ver o que rola! Logo volto aqui pra conversar com você de novo!!
Oi, Angel! Nossa, já me senti assim com várias leituras, ainda mais quando os personagens não evoluem. Nem sei o que dizer desse livro, só sei que mesmo você recomendando um “lei pra ver no que dá”, me desmotivou total. Tem clássicos e clássicos, e esse, pelo que estou percebendo, não é pra mim.
bjs
Lucy – Por essas páginas
Olá
Eu estou rindo até agora com sua resenha haha e compartilho perfeitamente com sua opinião.
Pode ser o século XX, mas isso nunca foi feminista.
Fazer uma ilha só com mulheres e jogar homens para diminui-las, é só reproduzir o que sentimos na pele todos os dias e se quer fazer algo bem bacana tem as Amazonas que eram verdadeiramente mulheres fortes e independentes e homens não mandavam lá nem sob forte armamento.
Queria até ler esse livro, mas vou só passar raiva haha
Beijos e leia o segundo livro que citou.
Mulher, eu solicitei esse livro e ele nunca chegou, depois solicitei de novo e nada hahaha aí acabei desistindo. Pedi pois queria muito ler algo da autora e achei que seria uma boa experiência, que pena que contigo não foi bem assim, ne? Lendo sua resenha me surpreendi com a maneira que reforçaram os estereótipos.
Olá!
Menina, eu nem li o livro, mas já pela sua resenha eu tô entendendo perfeitamente o motivo de você ter detestado tanto esse livro. Eu já estou odiando! Sério, acho que algumas coisas quando na época a gente consegue relevar e seguir, mas outras fica muito complicado mesmo, especialmente quando o livro ta sendo vendido com uma ideia diferente da que vemos… Enfim, uma pena mesmo ser assim, mas eu também não senti vontade alguma de ler por conta dessas coisas.
Adorei sua sinceridade e sua resenha!
Abraços
Olá!
Nunca tinha ouvido falar desse livro, uma pena que para você não tenha sido uma experiência tão agradável.
É bastante decepcionante quando estamos tão empolgada com uma leitura e não é o que esperávamos.
Gostei de saber sua opinião, beijos!
Que que coisa! Eu tinha visto uma resenha desse livro que me deixou na maior curiosidade com ele e criei expectativas com a leitura, mas sinto-me grata por ter lido a sua resenha, com certeza é um livro que vai me incomodar a leitura toda e vou tacar na parede, então é melhor nem comprar. Passar longe dele, isso sim.
Olá!
Essa é a magia da literatura: cada leitor resgata sua própria bagagem ao interpretar um enredo. Sem dúvidas, na época que foi escrito poderia ser considerado menos ofensivo o opressor. Eu mesma esse mês fiquei um pouco decepcionada com A Abadia de Northengar, da Jane Austen pelo mesmo motivo.
Bjs, Tatiana Castro
gatitaecia.blogspot.com.br
Olá, tudo bem? Não é a primeira vez que vejo uma resenha não tão positiva sobre a obra hehe Se antes não tinha me interessado, agora menos ainda. Não gosto como a temática foi trabalhada, e acho que isso já me incomodaria. Gostei de ver sua opinião sincera e cheia de justificativas plausíveis. Espero que o outro da autora seja melhor.
Beijos,
https://diariasleituras.blogspot.com
Olá!
Estou com esse livro no kindle, louca para ler mas tenho um receio da escrita é um livro que foi escrito a muuitos anos né, então já me “perco” nisso rs’ mas a princípio me parece ser uma história beem diferente, eu sairia da minha zona de conforto totalmente rs’ Odeio quando crio expectativas com as histórias e elas não me agradam, mas isso faz parte né, acho que irei demorar mais um pouquinho para me aventurar nesse livro! ótima resenha!
beijos!